O XVII Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa vai ter lugar em Manaus, numa realização da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Amazonas, no período de 25 a 28 de setembro de 2018. Terá como tema aglutinador das abordagens, discussões e reflexões o seguinte:
Cuidar da Casa Comum: da Natureza, da Vida, da Humanidade.
Oportunidades e responsabilidades do desporto e da educação física
A temática escolhida inspira-se nas preocupações enunciadas pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Sí’, Sobre o Cuidado da Casa Comum, de 24.05.2015. Não podia ser mais atual em face dos problemas da Humanidade e Natureza, nem mais adequada ao local do congresso. Com efeito, vive-se uma crise civilizacional, apontada por muitos pensadores como ‘regressão civilizacional’. A desorientação generalizada tomou conta do mundo, de cada um de nós e do conjunto da tribo humana.
A sociedade contemporânea afoga-se em cansaço e exaustão física, psicológica e moral. Cada um transporta às costas o seu próprio campo de concentração. É uma ‘sociedade desorientada’, carente de um alfabeto que nos ajude a entender este tempo.
A desorientação acontece no plano ecológico e social. E surge em todo o lado, porquanto o mundo é um arquipélago de ilhas ligadas entre si. Todas são habitadas de fantasmas, de frustrações e ilusões; em todas há tempestades.
O vento neoliberal, que varre o planeta, colocou o ecossistema e o socio-sistema à beira do abismo. Ambos estão entrelaçados; não há salvação isolada, mas apenas conjunta.
A natureza e a sociedade – como nossa casa comum – sofrem grave ameaça. A ilusão de crescimento infinito redunda em frustração infinita. Acumulam-se angústias, depressões, e rebeliões. As tragédias humanas e as naturais juntam-se umas às outras.
As mudanças são tantas e de tal envergadura, em todos os setores, que o projeto da Humanidade encontra-se encalhado numa encruzilhada. Não há nela uma sinalização que indique um futuro redentor do marasmo desta desesperante conjuntura. Parece que não fomos educados para o uso reto, justo e decente do conhecimento, do poder e dos meios ao nosso alcance. Falta-nos uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que espelhem a virtude no tocante à responsabilidade, aos valores, à autoconsciência dos limites na conduta. Perdeu-se a relação amigável com a natureza extrínseca e intrínseca, com o Outro, em favor da exploração abusiva, da mentira e falácia.
Temos que convocar o pensamento, a reflexão e a visão antropológica e filosófica para fundar um Novo Humanismo, e levantar marcos luminosos, balizadores da caminhada para um ambiente físico e social fundado na beleza, na ética e na estética, no refinamento das atitudes, no respeito pela natureza e pelas pessoas, na civilidade interior, no concerto permanente da polifonia, no universalismo.
A Universidade e a ciência, a escola e educação devem comprometer-se com o cuidado da Natureza e com o cultivo de outra modalidade de Ser Humano, de ser melhor e mais parecido consigo mesmo e com o ideal da Humanidade.
A crise é ingente, mas temos boas razões para esperança numa mudança. Os biliões de cérebros que, todas as manhãs, acordam e começam a pensar, e, todas as noites, adormecem a sonhar, produzem uma extensa e jubilosa manifestação da inteligência humana. Esta é tamanha que não pode fracassar na tarefa de salvar o ecossistema e de garantir a sobrevivência da Humanidade.
Apesar de parecer que as ideias simplistas, deprimentes, rasteiras e vulgares subjugam as ideias mais elaboradas, a beleza persiste. Ela é o pressuposto da nossa felicidade e a pré-condição do equilíbrio harmonioso do nosso ecossistema e socio-sistema.
Assim como Ferreira de Castro, com o romance A Selva, escrito em 14 dias, divulgou ao mundo a Amazónia, também este congresso almeja ser o ponto de irradiação de uma carta de recomendações para revigorar os fins e ideais, as causas e práticas do Desporto e da Educação Física, suscetíveis de inspirar a atuação das suas instituições e organizações. O Desporto e a Educação Física assumem o compromisso de responder aos desafios desta hora e de honrar o legado humanista e olímpico que perfaz a sua missão educativa.
1. Domenico De Masi, Alfabeto da Sociedade Desorientada: para entender o nosso tempo. São Paulo: Objetiva, 2017.